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Carta a Dona Maria do Carmo

Olá Dona Maria,

Já faz um tempo que não nos vemos. A última vez foi numa situação muito ruim, mas agora espero estar de coração mais leve para conversar com a senhora.

Confesso que ainda morro de saudades da senhora, queria ter sido mais presente, mais carinhoso, mais atencioso, mais tudo que a senhora merecia. Sou seu primeiro neto e não deveria ter sido tão relapso. Acho que o primeiro grande arrependimento da minha vida eu carrego agora em peito na forma de dor. A dor de não ter sido mais presente e ter ficado tanto tempo sem vê-la e a senhora ir embora sem que eu pudesse me despedir, mas saiba que nem por isso eu deixei de amar mais ou menos minha velhinha.

Boas lembranças me vêm à cabeça quando eu penso em ti. Engraçado como que algumas dessas lembranças são as mais toscas, mas são as que ficam grudadas no nosso subconsciente de tal forma que não entendemos. Lembro certa vez de ter entre 6 e 7 anos de ter ficado na sua casa e ir ao banheiro e a senhora me mandou “balançar direito, porque homem balança, né Zé Carlos? (meu pai biológico)”. Banal, sem importância. Mas é uma das lembranças que carregarei pro resto de minha vida. Outra lembrança que levarei pela vida, é o aprendizado. Por sua conta aprendi muito mais sobre sincretismo religioso do que se tivesse estudado. Umbanda, candomblé, espiritismo e cristianismo, todos juntos em busca de Deus, em busca de ser um ser humano melhor.

Espero de coração que a senhora possa estar olhando por nós, pois minha tia sente e sentirá sua falta para o resto da vida, todos sentiremos, mas ela principalmente. Meu tio e meu pai também sentirão, mas como são mais fechados não darão o braço a torcer. Seus netos também não se recuperaram até agora do choque de sua partida. Vigie a pequenina buchechuda, pois ela teve a sorte de conhecê-la um pouquinho, mas ainda é criança e precisa de carinho e compreensão.

Pois bem, vó. Eu quero que saiba que ainda sinto saudades, queria deixar claro que a senhora é muito amada por familiares e amigos, até porque estavam todos lá no seu último adeus. Mas eu tenho fé, esperança de que um dia possamos nos ver de novo, para que eu possa novamente lhe abraçar e beijar.

Vá em paz, Dona Maria.

Do seu neto que lhe ama tanto,

Michel.