Blablaísmo

Blá blá de qualidade

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O cientista Jean Piaget, em sua epistemologia genética, observou que o desenvolvimento humano é construído com um ciclo de zona de conforto – desequilíbrio – assimilação – acomodação.

Uma coisa que não percebi destacada nesse estudo é o quão exponencialmente doloroso esse ciclo se torna ao longo da vida. Quanto mais velha a pessoa se torna, mais a zona de conforto se torna uma singularidade psicológica (me recuso a usar quântica, em clara referência ao termo da física, para não ser confundido com um coach) que atrai o sujeito e tudo o que estiver ao seu redor e é praticamente impossível de escapar. Por mais que a empolgação da novidade se manifeste, a ZdC (zona de conforto) estará grudada em nós como aqueles carrapichos que grudam na meia em plena zona urbana e você se pergunta como diabos aquilo foi parar em você. Tirar esse velcro da natureza de sua meia emocional é complicado, gruda nos dedos, de novo na meia e embora você se esforce, a solução é grudar em outra peça de roupa que você não está vestindo. Invariavelmente você acabará vestindo aquela peça. Com o carrapicho.

A língua portuguesa é deveras maravilhosa algumas vezes. Outras ela é ótima. Não consigo imaginar outro arranjo de palavras que deem conta de passar a sensação calorosa de uma ZdC que essa expressão nos transmite. É zona que, dentre toda sua polissemia, é lugar, Físico ou metafísico; é conforto, que dispensa uma análise mais aprofundada por conta da preguiça de se estar confortável em seu sentido mais superficial e rasteiro.

A segunda-feira, geralmente, é o dia mais odiado pelas pessoas por significar a volta das atividades laborais. Na verdade não se odeia a segunda-feira, mas sim o capitalismo. Não à toa, tamanho ódio é nutrido pelo dia da lua que reservamos a ele o início das atividades que nos causam dor, pavor, cansaço, mental ou físico, entre outras coisas. Coisas que “odiamos” são agendadas para se iniciarem no dia que também odiamos. Mesmo que não detestemos algo, quando decretamos seu início no primeiro dia útil da semana, só o fato de ser novidade já nos estressa. Ainda que seja aquele curso de russo que você sempre nutriu um desejo secreto, ou uma aula de oboé que você sempre delirou ao ouvir, coisas novas nos empolgam na mesma proporção que nos assombram. É doloroso rasgar a si mesmo do seu sofá emocional reclinável com extensores para as pernas. É cruel e empolgante. Doloroso e prazeroso. Seres humanos são complicados. E são simples. Paradoxos.

Há quem desconfie da mudança de paradigmas seculares. Merthiolate que não arde, Havaianas de cores extravagantes, cerveja sem álcool entre outras coisas que era tidas como leis pétreas e evoluíram com o passar do tempo. Imbuídos de nossos pré-conceitos, as novidades nos afligem de tal forma que lutamos com unhas e dentes para manter a normalidade do mundo que estamos tão acostumados a enxergar. As novidades são ameaçadoras.

Munido desses mesmos preconteitos que sempre tive, um baque enorme levei ao fazer uma aula experimental do método de controle muscular do seu Joseph e descobri que não era leve, não era fácil, nem “coisa de mulher”. É infernal. Dói onde você nem sabia que existia músculo. O mais triste é ouvir que tudo não passa de uma tortura do bem e ter de concordar muito com isso, porque nunca estive tão bem com minha mobilidade. Não se deixem enganar pela carinha de anjo plácido das pessoas que ministram as aulas/sessões: eles estão ali para te moer. Tudo com muito amor e paciência. Mesmo que eu esteja com meu corpo maltratado, o pilates tem ajeitado. Nem que pra isso precise me destruir para reconstruir. Tenho para mim que Joseph recebeu a ideia de criar este método de maos divinas. Especificamente das quatro de Shiva. Talves não seja ironia o nome do criador ser parecido com o daquele que condenou o Cristo à morte. Só sendo imolado que se chega ao céu de estar bem com sua saúde.

Ironias à parte, recomendo muito a todos que tenham curiosidade. Pode ser que puxar umas molas enquanto se equilibra numa bola de cabeça para baixo para ativar o músculo da nuca seja a sua praia!