Blablaísmo

Blá blá de qualidade

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Qual é o seu livro favorito?

Ultimamente esta é uma pergunta que vem me assombrando. Desde o começo do ano todas as pessoas que me conhecem devem ter feito algum tipo de acordo macabro para me questionar ao menos uma vez a cada mês sobre qual livro é aquele que seria o mais querido para mim.

A resposta é tão complexa quanto simples. Não sei.

Pela convenção social onde todos preferimos algo a alguma coisa e quem não gosta é um infiel que não sabe de nada, numa época em que cada vez mais nos retorcemos para dentro de nós mesmo numa sequência de Fibonacci egocêntrica espiralando mais e mais para dentro de nossos umbigos, não consigo me posicionar com a certeza de um vencedor qual obra literária eu gostaria de ser enterrado ou cremado junto.

Para uma pessoa que não costuma sonhar (figurativa e literalmente), tenho tido alguns pesadelos recorrentes sobre autores me cobrando fidelidade, questionando minha fidelidade para com eles e fujo com mais pavor do que fugiria de um Jason em uma sexta-feira 13. Ou sábado 14.

O que para muito é simples e trivial, para mim é mais difícil do que explicar a teoria das cordas na língua de sinais do Burundi. E eu não sei nem LIBRAS, que dirá a do país africano.

Quando a bendita pergunta é jogada ao ar em minha direção, fico mais aturdido do que um cão que não consegue pegar a guloseima e só me resta deixá-la bater na minha cara e observar com muita tristeza sua queda até o chão. E o gato come e sai correndo.

Posso dizer que simpatizei com bastantes livros ao longo da minha curta vida de leitura. Uns me fizeram chorar, outros dar boas e deliciosas gargalhadas. Me fizeram prender a respiração e alguns até conseguiram me irritar, mas raramente desgostei de algum. Para mim ou é amor ou desinteresse. Nunca raiva, ódio tampouco.

Talvez pelo fato do meu gosto literário ser um pouco parecido com meu gosto musical, bem amplo, eu consigo ler com a mesma empolgação um Rick Riordan e um Mia Couto. Um Ouro, Fogo & Megabytes e um Cemitério dos pássaros ao mesmo tempo.

Tentar responder a essa pergunta é tão difícil quanto complexo responder qual é o seu órgão favorito. Sei lá, prefiro o baço a meu fígado. Não tem muito nexo. A não ser que sejamos obrigados por um infortúnio da vida a decidirmos qual deles devemos salvar em detrimento do outro. Aquele que permitiria seguir com a manutenção básica da vida. Não poderia me livrar de um livro que é meu coração, mas doaria um que fosse um rim.

Então, pessoas queridas e outras nem tanto, não me perguntem qual é o me livro favorito. Perguntem qual livro que mais gostei de ler este ano que já será um pouco mais fácil de você ter sua pergunta respondida. Eu devo ter alguma casa astral em algum signo de indecisão, isso se eu acreditasse em signos que não fossem da semiótica.