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Estou me guardando para quando o carnaval chegar

Toritama é um município de 45.219 habitantes, de acordo com as estimativas do IBGE, no interior de Pernambuco. Distante 164 km da capital pernambucana (Recife, caso você não lembre). Isso dá um pouco mais de 2 horas de viagem, de acordo com o Google mapas. Além disso, Toritama está localizada no Agreste, no clima semiárido. Ou seja, muito calor e pouca chuva ao longo do ano.

Mesmo assim, pequena, essa cidade produz mais de 20 milhões de jeans, anualmente, sendo responsável por 20% da produção nacional. E é esse o foco do documentário Estou me guardando para quando o carnaval chegar.

Produzido por Marcelo Gomes, o documentário é um olhar honesto sobre os moradores de Toritama e como tudo gira em torno da produção de jeans. Ao contrário do que nossa imaginação nos faz crer, não vemos grandes fábricas na cidades. Tudo é produzido em casas e garagens, de forma simples e com bastantes pessoas.

O diretor do documentário tem um laço afetivo para com a cidade. Em vários momentos ele narra como era e o que mudou, mas sem fazer julgamento de valores. O que podemos perceber é que o ritmo alucinado da produção de jeans dita o ritmo da cidade, mas ao mesmo tempo ela preserva suas características de cidade pequena. É o novo e o velho vivendo juntos.

Também é interessante perceber como as pessoas entendem a situação de trabalhadores autônomos em que vivem. Não possuem proteções trabalhistas, o que deixa claro que ficar doente não é uma opção. Produzir jeans é barato demais – os valores variam entre 10 e 20 centavos. Consegue imaginar o quanto eles precisam produzir em jeans para ter dinheiro para sobreviver? Tudo bem que 200 reais em Toritama rende mais do que em São Paulo, por exemplo, mas mesmo assim exige uma produção em que você precisa abrir mão da vivência fora do trabalho. O local de trabalho é o espaço de vivência, de encontro e desencontros.

Recomendo muito assistir Estou me guardando para quando o carnaval chegar. Marcelo Gomes consegue mostrar como o jeans mudou a cidade que ele tinha na memória, ao mesmo tempo faz uma leitura crítica do capitalismo e da importância do único momento de lazer que esses trabalhadores possuem.