A garota solitária
Há alguns meses foi lançado o anime Carole & Tuesday na Netflix e como várias estreias, passou despercebida por mim. Não deveria ter acontecido, pois o pano de fundo dessa história é a busca do sonho de se tornarem músicas profissionais. Como eu já tentei, brevemente e sem sucesso, ser um, esse tema tende a mexer um pouco comigo.
Como muitas séries outrora já fizeram, esta me fez cair novamente em um hábito que não aprecio muito e não consigo evitar: maratonar sem parar.
A história é dividida entre Carole, uma orfã que vive sozinha pulando de emprego em emprego e nas horas vagas gosta de tocar e cantar, mas não consegue expor em palavras seus sentimentos que fluem pelo piano (ou teclado) através de suas melodias e Tuesday, filha de uma política de sucesso que rege a família com muita distância física e emocional. Ela não conseguiu se encontrar em nenhuma atividade a não ser a música e foge de casa para uma cidade grande em busca de seu sonho de independência. Elas se cruzam e nunca mais se desgrudam.
A partir daí a animação se desenrola com a luta das meninas para conseguir emprego, compor suas músicas e, após a introdução de um empresário (por incrível que pareça) bem intensionado, tentar engenar uma carreira músical, falahndo miseravelmente em todos os planos até que como último recurso entram em uma competição de talentos que lembra bastante X factor e programas afins.
É interessante notar que toda a história se passa em Marte, levando a crer que a humanidade se expandiu pelo universo e conseguiu terraformatar o planeta vermelho e por não ser o foco da história não é muito explicado como se deu a colonização. Outro ponto relevante a se destacar é o fato de que a esmagadora maioria dos cantores daquela época só “compunham” suas músicas com auxílio de Inteligência Artificial, encabeçado por um neuroartista e uma modelo que quer finalmente se dedicar ao sonho de ser cantora.
De forma curiosa somos levados a crer que as composições feitas por IA são frias, sem sal, desprovidas de quaisquer emoções e facilmente encaixada como algo do mal, mesmo que não tenha sido enfatizado esse lado a não ser para compor uma certa rivalidade, mesmo que involuntária entre um robô que analisa tudo por um conjunto de informações e o coração humano e sua iventividade. Isso, entretanto, cai por terra quando é revelado que a IA “lê” o artista em questão chegando até a analisar o subconsciente e compondo melodia e letra baseados nas experiências e sentimentos da artista.
Outro ponto forte são as músicas que são apresentadas durante as competições, mesmo que num primeiro momento cause estranheza pela diferença de timbre vocal levando-nos a questionar qual dos timbres seria o natural e qual seria o forçado de cada personagem. Apesar de torcer pelas protagonistas, também tive uma queda pela antagonista que se torna uma adversária amigável. As letras faziam bastante sentido e as melodias muito boas, mas faltou, na minha opinião, as protagonistas deixarem suas vozes explodirem como a emoção nos levava a crer que haveria uma subida no tom da música. Só que respeitar sua voz e às vezes levar a crer que uma elevação ocorra também é um talento e um esforço, pois nos faz sair do lugar comum onde achamos que conseguimos prever uma música.
Recomendo fortemente o anime que assim como BECK entrou para o cantinho musical do meu coração e espero um dia ver um live action acontecer. Só não recomendo que assistam tudo de uma vez como eu fiz porque não é lá muito produtivo!
Parece fofinho.
Interessante o argumento do anime em relação à IA.
É bem gostosinho e cativante. Recomendo para assistir aos finais de semana.