A direita está morta
Adivinha quem está de volta de volta explorando a sua vergonha? Ele mesmo, o azar.
Não que eu acredite muito em azar, mas ele às vezes se faz muito presente ante os olhos deste velho cético.
Por vezes se manifesta na forma daquele pedaço de comida que pula da panela direto ao chão num ato de puro desespero entre o fogo e a panela, outras vezes naquele ônibus que tá indo embora justo quando você virou a esquina para chegar ao ponto. Hoje ela foi cruel: meu fone do lado direito morreu quando já estava há uns 600m de casa quando saí para caminhar e tentar trazer um pouco de saúde para meu corpo corpulento. O ato de se exercitar é um tipo de tortura voluntária que a sociedade aceita. Não consigo enxergar um propósito em erguer 200kg se não for para uma competição olímpica ou algo do gênero. Meia hora de caminhada é um suplício que dura uma eternidade dentro dos 1800seg que essa ação compreende e ouvir uma musiquinha ou um podcast é um oásis a perseguir neste trajeto infernal. Perder um lado do fone é perder metade desse miniparaíso. Você já não está mais tão concentrado nas vozes dos participantes, nem todas as notas das músicas estão presentes, aquela linha de baixo se perdeu para sempre e o pior, você é obrigado a ter meia consciência de sua dor e desgracência por estar se maltratando desse jeito. Mesmo que a longo prazo isso te deixe mais saudável, mas não mudemos de assunto.
Como todos sabemos, as merdas vêm aos pares e este era o meu último fone, sobrevivente de um assalto, com fio que servia para a prática do esporte. Podia não estar mais nos seu melhores dias, tinha mais cera do que som, os graves já estavam mais suaves que bumbum de nenê, os fios, outrora brancos, já estavam mais cinzas que meus últimos dias, mas mesmo assim era bom o suficiente para ser discreto e funcional. Como tudo que perdemos na vida, ele me ensinou como ela é cruel e aprendi mais uma vez a amarga lição do desapego, mesmo que de forma involuntária. E agora me deixou este problema de repô-lo, mas os fones estão muito caros hoje em dia. Um fone básico está por volta dos indecorosos R$50,00. Eu, antes dessa triste história, arrisquei a comprar um daqueles fones camaradas de R$5,00 no amigo camelô. Teria sido a mesma coisa que ter ateado fogo à pobre cédula. Desconfortáveis e com uma qualidade mais duvidosa do que a campanha da seleção nesta última copa. Uma pena. Me aventurarei num, caro, JBL, mas ainda estou escolhendo o modelo que possa ser um bom custo benefício, pois não aceito que ele me abandone em menos do que os cinco lindos anos que este fone de celular que a samsumg “me deu” junto com meu finado A7. Espero sinceramente uma boa qualidade de graves e um volume mais alto do que aquele que meu velho sam já não produzia mais.
Enquanto isso terei de apelar para um fone bluetooth importado da China, baratinho de qualidade duvidosa, que de 10 em 10m preciso recolocar na orelha porque é muito liso e como eu suo mais do que aquela garrafa de cerveja no happyhour, o danado vive querendo me abandonar para testar se já conhece meu percurso por si só, além de não durar mais do que 3 caminhadas com uma carga só. Quem não tem cão, caça com rato.