Blablaísmo

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É possível separar autor e obra?

Quando eu era adolescente ouvia muito Lobão e Ultraje a Rigor. Sério, até ficava um pouco chateado de ver poucas bandas cover tocando músicas dessas bandas. Ultraje ainda tocava um pouco mais do que o Lobão, mas mesmo assim era em quantidade bem menor do que outras bandas, como Paralamas e Titãs, por exemplo.

Até chegar as redes sociais, principalmente o Twitter, e perceber o quanto o Lobão e o Roger são pessoas que possuem convicções e ideias totalmente contrárias as minhas. A um ponto que eu não consigo mais ouvir ou apreciar suas músicas sem me lembrar dessas atitudes.

Me lembrei disso dias atrás, ao ver um texto do blog “Apoie a Cena”. É um texto sobre bandas cujos integrantes estiveram envolvidos em casos de machismo. Antes o texto se chamava “Bandas brasileiras que você deveria evitar”, depois mudaram para “bandas brasileiras com atitudes machistas”. Esse texto ficou em evidência depois do relato de uma ex-companheira de um dos integrantes da banda Apanhador Só. E essa é uma banda que eu gosto. E tem outras bandas que eu já ouvi e achei  bem legais as músicas, mas cujos membros fizeram algo que eu acho ruim.

É possível apreciar a obra de uma banda e ignorar as atitudes de seus membros, mesmo que essas atitudes vão contra seus princípios, suas convicções? Fiz essa pergunta lá no facebook e as opiniões também ficaram divididas. Algumas falaram que param de ouvir, outras disseram que conseguem separar o autor da obra.

Pesquisando na internet, me deparei com uma reportagem da Veja sobre esse tema. E, lá no meio, tem o seguinte trecho: “Como escreveu a professora-assistente de Psicologia da Universidade de Cornell, Peggy Drexler, em um texto para a revista Time sobre a controvérsia recente em torno de Woody Allen, “quando assistimos a um filme ou lemos um livro, nós estamos procurando entretenimento e cultura, nós não estamos apoiando a conduta como ser humano de quem realizou a obra”.”

Seres humanos erram, isso já sabemos. Também temos a possibilidade de nos redimir e reparar nossos erros. Mas o quanto conseguimos ignorar para continuar apreciando a obra? Confesso que não consigo ter uma resposta final para isso – e provavelmente nem terei. Mas sigo pensando sobre isso.