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A importância da representatividade nos quadrinhos

Quando adolescente, fui um garoto com pescoço grande, mãos e pés desproporcionais, magricela e com uma voz de ganso rouco. Ainda por cima usava aparelhos nos dentes (fixo, móvel e o famoso freio-de-burro). E óculos! Eu basicamente tinha tudo o que era necessário para ser alvo de brincadeiras sem graça. Não que tenha acontecido situações que me afetaram muito, mas não tenho muitas boas recordações dessa época. Tanto que eu sinto que me tornei uma pessoa melhor depois do colégio, quando comecei a fazer cursinho pré-vestibular.

O que eu fiz muito nessa época foi ler. Livros e gibis. Como não tinha muito dinheiro e conseguir ler gibi em cidade pequena de interior não era algo muito fácil, eu lia na biblioteca. Sim, a biblioteca municipal tinha um acervo bacana de gibis, dos mais variados. Foi nela que eu li alguns clássicos, com suas páginas todas estragadas, e algumas com páginas arrancadas ou toda marcada.

Eu gostava de ler esses gibis porque de alguma forma me via representado ali. Bruce Wayne perdeu os pais, mas agora veste uma roupa de morcego e coloca medo nas pessoas. Superman era o último do seu planeta, possui força para dominar o planeta, mas prefere salvar as pessoas. Peter Parker é um nerd perdedor, mas é só se transformar em Homem-Aranha que passa a ser bem legal, todo mundo gosta e ainda por cima tem o amor da garota mais linda da cidade.

Porra, que garoto não queria que sua vida fosse assim?

Tem um detalhe importante nisso tudo, que é preciso ressaltar: eu sou homem, hétero, branco, classe média. É fácil conseguir me identificar com personagens dos quadrinhos, porque a maioria também é assim, ou chega perto disso. Mas e quem não se encaixa nisso? Eles são representados nos quadrinhos? No cinema? Na música?

Recentemente, saiu a noticia de uma reunião da Marvel com varejistas e donos de lojas de quadrinhos, e uma das reclamações foi a de que a diversidade mais atrapalha do que ajuda na venda dos gibis. E sites brasileiros, como o Terra Zero e o Melhores do Mundo, além de alguns estrangeiros, mostraram que isso é besteira, o que atrapalha as vendas são outros fatores. A diversidade no quadrinho é importante sim.

Lembra quando eu falei que há muitas pessoas que não se encaixam no mesmo padrão que eu? Pois então, elas também querem se ver nos gibis, no cinema, na música. E essa semana eu tive uma comprovação disso.

Sou professor de Geografia na rede pública. E tenha uma aluna que veio do Líbano e é muçulmana. O grupo dela já havia terminado uma atividade que eu passei, então ela ficaria livre naquela aula. Pensando nisso, levei meu exemplar da Miss Marvel para ela ler.

Ela adorou a personagem! Ela sentiu uma identificação, já é uma história sobre uma adolescente de 15 anos, muçulmana e que passa por dramas pessoais que essa minha aluna também passa, devido a sua religião e ao fato de ser mulher. Percebi um ânimo ela que eu tive quando na mesma idade, quando me senti identificado.

Por isso acredito muito que a diversidade é importante. Boas histórias vendem gibis. Se somar diversidade nessas boas histórias, muitas pessoas vão começar a ler.