Blablaísmo

Blá blá de qualidade

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[MCP4] Receptáculos de alma

A fotografia evoluiu muito bem nesses últimos duzentos anos.

O que antes era uma excentricidade pecaminosamente cara e dispendiosa, hoje não passa de mero conveniente viciante para registrar todo e qualquer momento aleatório. Se antes as pessoas precisavam aguardar alguns longos minutos para tirar uma foto, hoje em dia em questão de segundos você tira várias, seleciona as melhores, edita e retoca e posta em redes sociais.

Se antes demorávamos horas para revelar, hoje imprimimos (raramente) com uma facilidade absurda em nossas próprias casas. Sem necessidade de um estúdio. Isso me lembra um pouco da antiga polaroid e a crendice popular de ter que balançar a foto para secar rápido.

 

 

Outra coisa que acabou por cair na obsolescência foram os filmes. Quando tive minha primeira máquina de fotografar, só conseguia comprar os filmes de 12 poses (fotos). Minha mamãe comprava um de 36 e durava o ano inteiro e mais outro para revelar. O filme era caro. Revelar era mais ainda. Sem contar a frustração de algumas fotos não saírem tão boas ou péssimas e você ficar com aquela sensação azeda de ter jogado dinheiro fora. Mas era divertida a espera.

No início da era das máquinas digitais, uma câmera de 5megabixos (eu tinha dificuldade para falar mega pixels) era obscenamente cara e revelar as fotos era igualmente dispendioso. E com essa tecnologia, finalmente meus gatos tiveram mais fotos do que eu tive na minha infância. Alou Chulé e Mingau! 

Hoje as pessoas estão a preferir registrar todo e qualquer momento do que experienciá-lo. Não raro num show, seja ele de metal ou de pagofunk, é comum observar celulares, tablets ou outros dispositivos de captura de imagens em riste. Tornou-se comum observar o mundo através da tela de um aparelho do que com os próprios olhos. Nossa memória se tornou mais dependente das muletas digitais. Não que não seja bom guardar momentos em imagens estáticas, mas cabe um pouco de autorreflexão e bom senso próprio para delimitar seu limite, para que não deixemos nossas lembranças a cargo de uma máquina.

Até amanhã.