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As aventuras da nova puberdade

Todos passamos, passaremos ou conhecemos alguém que já passou ou passará pelas agruras da juventude. Aquele lindo e doce bombardeio de hormônios responsável por modificar o corpo e a mente do bicho humano.

Outro fato que não deve ser novidade para ninguém é que este moço que escreve aqui de vez em quando, está ficando cada dia mais velho, tão somente para adequar sua condição física à mentalidade anciã.

Isto posto, trago a vocês a mais nova descoberta científica registradas pelos Laboratórios Souza Ltda.™: a puberdade 2.0. Essa maravilhosa e deliciosa mudança que o corpo (no caso estudado, o masculino) passa para chegar bem podre no estágio final da vida.

O primeiro indício que se faz perceber é a queda da massa muscular. Haja academia para sustentar a quantidade de músculos que você acumulava facilmente em um mês regular na academia. Em contrapartida percebe-se o aumento do músculo abdominal. Claro que quando em falo músculo, me refiro ao pânceps. Essa bolsa de armazenamento de gordura e história cresce com uma facilidade que desafia a lógica. Foi observado em nossa cobaia um pequeno declive na região pancêmica que insiste em se projetar para fora das calças.

Impressionante também é outra condição trazida pela nova puberdade. Trata-se dos pelos. Crescem em profusão nos locais mais inóspitos do terreno epidérmico. Costas e orelhas são duas localidades favoritas para os cabelos da segunda puberdade aparecerem. Apesar de não saber a aplicabilidade de seu crescimento, há uma teoria desenvolvida pelos laboratórios que participaram desse estudo. Indícios apontam para a proporcionalidade do crescimento dos pelos pelo corpo com a queda dos seus pares que nascem no couro (não tão mais) cabeludo. Chega a ser engraçado que os cabelos da cobaia aparentemente estão travando uma corrida para saber o que ocorre primeiro: calvície ou brancura total.

Dores. Esse garboso conjunto de sensações tão boas que te lembram o quão velho você está ficando. Um joelho que reclama aqui, um cotovelo que dói do nada, um calcanhar que lateja sem nem ao menos saber o porquê, entre outras dores ocasionais e mais sem explicação do que os milhões de um certo deputado em contas suíças. Você está tranquilamente assistindo tv e estica o braço para pegar pipoca ou refrigerante ou até mesmo as duas coisas ao mesmo tempo e um tendão maroto cisma em se retesar e te passar a linda sensação de arrebentar um e deixa cair tudo no chão. Você vai limpar a bagunça feita pela traição corporal e os ninjas do corpo te dão outro golpe, só que nas costas. Inclusive as costas são o alvo predileto das dores oportunas. Ao que parece o cartão de visitas da velhice é a dor nas costas.

Talvez um dos casos mais graves que ocorrem nessa época seja o crescimento exponencial da preguiça (que é meu totem). Você pensa duas vezes antes de ir a uma balada, você pensa três antes de ir à praia, você pensa em como recusar aquele convite para uma trilha que certamente te levará mais próximo ao fim da vida. Acontece a transformação do você reverso. Enquanto o seu eu jovem toparia qualquer programa de índio sem nem pestanejar, seu eu reverso considera passar a tarde de domingo em casa assistindo Netflix como um esporte radical. Claro que em alguns casos acontece um surto motivador, ou talvez a bateria da preguiça tenha acabado, e você acaba saindo pelo mundo a desbravá-lo, mas são casos isolados. Nossa cobaia sofre de surtos parecidos ao menos uma vez por mês.

Sono, o doce treino para a morte, incrivelmente, diminui com a aproximação da ossuda. A cobaia quando consegue dormir oito horas seguidas, geralmente acorda num estado incompreensível de satisfação, dando pulos de alegria e gritando pela casa como um desvairado. Apenas uma anomalia. Ainda sobre o sono, nota-se também uma inversão dos locaias adequados para tão nobre atividade. O indivíduo semi-idoso dorme onde deveria estar acordado e dorme onde deveria estar atento. Dorme praticamente em qualquer lugar que encostar, menos em sua própria cama. Outro local, muito apreciado pela nossa cobaia é o ônibus. Talvez o doce balanço da condução seja um simulacro do colo materno e ela acaba por se aconchegar no ombro do passageiro ao lado ou se arriscar a bater cabeça no vidro da janela.

Esse estudo já dura trinta e quatro anos e os atualizaremos daqui a uma década com novos dados.

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