Blablaísmo

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[MCP3] Piranhas mutantes vampiras assassinas contra lobisomens zumbis ninjas de sunga

escritor escrevendo homem

– Jó, seu sacana, eu não sabia que você era escritor!

– Não sabia que eu deveria colocar no jornal para divulgar ao mundo minha profissão, Tom.

– Sobre o que você está escrevendo? É romance? É policial? É fantasia? Aposto que deve ser fantasia. Tu sempre teve pinta daqueles virjões que vivem lendo aquele cara dos anéis, aquele seriado do tal capitão Spock, o guerra nas estrelas e essas coisas.

Após alguns segundos de incredulidade catatônica, Jó responde:

– Sério, cara, tou tentando escrever aqui. Se você puder me…

– Caraca! Que história louca é essa? Só uma linha? Você tem que escrever alguma coisa de macho, cara. Algo que desperte a natureza viril do homem, com muito suor e músculos e…

– Acho que você está passando muito tempo na academia, Tom, mas sério, eu preciso trabalhar.

– Trabalhar? Pensei que você fazia isso por diversão, um hobby ou essas coisas de gente fresca. Cara, você já pensou em tirar esses bonequinhos da caixa? Olha só esse carinha aqui por exemplo. Ué, o braço soltava assim?

– Caralh… Tom, seu idiota! Larga meus bonecos e vem pra cá. E sem tocar em nada! Senta aqui do meu lado e fige que está me ajudando.

– Tá bom…

Meia hora depois.

– Cara, esse personagem tá muito fraco, põe ele com uma metralhadora em cada braço!

– Ele só tem oito anos, Tom. Fique quieto.

– Aposto que consigo escrever uma história melhor que a sua!

– É mesmo? Então vamos ver, senhor Tomé. O prazo é até o fim do dia. Tema livre.

– Se prepare para o best-seller brasileiro do ano.

– Veremos.

No fim do dia, após muito empenho, Jó conseguiu terminar três capítulos de seu livro e com o quarto encaminhado, além de várias ideias promissoras. Ao procurar o amigo para contar seu progresso, recorda-se da aposta. Só não consegue emitir som algum após contemplar a face do companheiro que alternava entre a exultação e euforia.

– Parece que você escreveu algo muito bom!

– Pode apostar, Jó! Vou ganhar o Pulitzer com essa minha obra.

– Deixe-me ver isso aqui então.

– Só se você prometer não roubar minha obra.

– Deixe de palhaçada e me dê logo isso.

– Escrever, eu não escrevi muito. Na verdade só tem o título. Mas só com ele já entro na academia brasileira de letras.

– Tá bom, agora me dá isso.

E naquela folha de papel amassada, desgastada de tanto apagar, estava escrito aquilo que Jó não podia esperar e cai na gargalhada.

– O que foi? Por que você tá rindo? Dei duro nesse título. Eu queimei meus neurônios pra te vencer! O que tem de errado? Para de rir Jó!

– Não nada errado, só está, hahahahaha.

– O que tem de mais em “Piranhas mutantes vampiras assassinas contra lobisomens zumbis ninjas de sunga”?

– Nada. Absolutamente nada! Hahahaha.

– Você verá! Eu ainda vou me tornar o novo Machado de Alencar do nosso século.

– Só acredito vendo, Tomé. Só acredito vendo.