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[MCP3] Morar longe da mãe

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É bem provável que eu já more longe da minha mãe há pelo menos oito anos. Nem por isso é menos doloroso ou fácil.

Tudo bem que eu e minha progenitora tenhamos nossas divergências, somos teimosos como mulas, acreditamos (ou deixamos de acreditar) em coisas diferentes e briguemos de cinco em cinco minutos. Mas tudo isso não quer dizer que eu não a ame.

Aprendi que o pior de se perder o contato proximal com a mãe (ou pai ou quaisquer figuras importantes de referência), é o fato de não estar disponível a qualquer hora do dia. Um oi pelo telefone, pela internet ou até por carta não se compara com a acessibilidade imediata quando se precisa de um abraço. O olhar compreensivo não tem o mesmo calor pelo skype.

Ter o meu espaço é importante, trilhar meu próprio caminho é desafiador, mas como deixar de pensar em quem te ensinou a andar ou que o espaço mais importante que você já teve foi dentro dela? Se hoje eu sou capaz de ser prolixo na minha fala, foi porque ela teve muita paciência para me ouvir falar tudo errado e me corrigir. Se hoje eu escrevo estes textos, foi porque ela nunca desistiu de me incentivar a estudar (mesmo sob a tutela de um chinelo nas mãos) e hoje eu posso ajudá-la a corrigir pequenos deslizes linguísticos. Mas ela não me ensinou a lidar com o aperto no peito que me sufoca, no mínimo uma vez por semana, por não a ter mais ao alcance das mãos.

O ser humano é mesmo um bicho do absurdo. Quando novo deseja ser mais velho, quando mais velho deseja ser mais novo. Quando jovem, repudia os pais, quando velho os querem mais do que nunca.

Apesar de ser um jovem adulto, não tão jovem assim, ainda sustento o sonho utópico de morar próximo às pessoas das quais eu gosto e nessa lógica, minha mãe seria minha vizinha. Mas bem que eu me contentaria em morar na mesma cidade.

Cada dia mais eu percebo que virar adulto se trata de matar pouco a pouco as fantasias e sonhos que temos dentro de nós, mas que só alguns conseguem sustentar e esconder os mais caros e brilhantes do ceifadora de felicidade que é a vida.

Até amanhã.