Decisões e Consequências
Deveria me apresentar…..deveria seguir regras…..mas não vou fazer isso!
Éramos três….aquele número que a gente aprende na física, que é o número perfeito, pois é necessário somente 3 pernas em um banco para mantê-lo em pé (sei lá porque ainda lembro disso!)… Três: presente, passado e futuro…fé, prática e estudo (diz a doutrina budista)…hoje somos duas.
Depois de 31 anos de convivência ela decidiu partir, sem perguntar, sem pedir ajuda.
Queria de alguma forma que essa partida não fosse em vão, e este é o motivo desse texto.
Quem tem irmãos com idade próxima sabe o verdadeiro caos em que vivemos. Um dia de guerra e outro de flores. Mas sempre, sempre, no fim de tudo, juntos. Éramos assim, juntas. Incrível que passamos por muitas coisas juntas, e eu acreditava que viveria o resto da minha vida junto com ela (reclamando do meu lado, como uma boa velhinha).
E foi exatamente depois de uma tentativa de trégua que ela decidiu partir, sem perguntar ou informar sua decisão (talvez porque eu impediria tal acontecimento!).
Hoje convivemos com a consequência dessa perda. Uma dor imensa que vai e vem. Parece que algo dentro de mim quebrou, e nunca mais vai se consertar; algo como um quebra-cabeça que perdemos uma peça.
Viveu, viveu tudo o que era oferecido. Viveu intensamente. Tinha o dom de reunir pessoas, fazer festas, celebrar; me ensinou a viver assim… me obrigou a viver situações diferentes, a sair da minha zona de conforto… me ensinou a viver…e agora me ensina como aceitar a morte.
Em breve irá fazer um ano e queria homenagear de alguma forma, já que me ensinou tanta coisa… mas é difícil agradecer alguém que decidiu não ficar mais com a gente…e é estranho (quem sabe a palavra certa seja mórbido) fazer isso virtualmente. Mas se eu tivesse cinco minutos tentaria salvar (como fiz nas quase 2 horas)….não abraçaria e falaria tchau….tentaria de alguma forma reverter tudo e ter ela comigo, pra ver nosso novo sobrinho chegando ao mundo….
Decisões: a todo momento pensamos e fazemos ações que partiram de decisões. E logo em seguida recebemos sua consequência. Ação positiva – consequência positiva (e vice-versa).
Acredito que por mais que nossa vida esteja virada do avesso, por mais que aquela nuvem preta ande por cima das nossas cabeças, ou embaçando nossa visão, ainda assim é muito melhor continuar lutando, crescendo e vivendo.
Eu decidi viver, e a consequência disso é que hoje posso me desenvolver e ver as pessoas que mais amo crescer, errar, acertar, celebrar a vida, tentando ajudar a todos no que é possível. Infelizmente ela decidiu outro caminho…espero que esteja bem….se preparando para novas aventuras…
Se por acaso você estiver numa situação que tudo parece sem sentido, sem saída, por favor, procure ajuda profissional. Há programas de saúde mental de graça (é uma fila enorme mas, dependendo do caso, fazem-se concessões!), médicos, especialistas na área que com certeza irão te ajudar. Não é vergonha nenhuma, é uma doença como qualquer outra e como tal necessita de cuidados diários!
Mas ela faz falta!!! Muita falta!!!!
É estranho como a ausência é presente na memória dos que ficam. Mas águas seguem o curso do rio assim como a vida busca em vão o amanhã. Para nós que ficamos resta a lição de que a vida é efêmera, mas inimaginável em cada segundo que (vi)vemos o seu milagre.
“A lembrança é uma forma de encontro.” – Khalil Gibran