Blablaísmo

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O apresentador, o ator, o fotógrafo e nome aos bois

Primeiro de tudo, assista o video abaixo.

Vi algumas pessoas chamando de “falha”, “fail” ou algo parecido com isso o que aconteceu no programa Na Moral, do Pedro Bial. Mas também não acho que dá para chamar de hipocrisia o que aconteceu. E vou dizer porque.

A ideia do programa foi discutir justamente sobre a invasão de privacidade promovida pela mídia. E foi bem oportuno justamente um apresentador de reality show trazer essa discussão – se bem que poderiamos entrar na discussão de “até onde é invasão de privacidade um programa de reality show, que possui um roteiro e pessoas que assinaram um contrato permitindo o uso de imagem”.

Enfim, além do Pedro Bial temos o Pedro Cardoso – um cara que não gosta de paparazzi – e o fotógrafo Felipe Panfili.

Em um determinado momento Pedro Cardoso claramente diz que a culpa não é do fotógrafo e sim do “patrão”, ou seja, de quem encomendou o serviço. Bial, numa tentativa falha e besta de colocar o Pedro Cardoso contra o Felipe Panfili, alega que o fotógrafo é dono de uma agência e – por tabela – patrão dele mesmo, logo, a culpa é dele. Cardoso espertamente já explicita que alguem compra os serviços do fotógrafo. E isso é uma relação empregador-empregado básica em qualquer aula sobre o funcionamento do capitalismo. Um serviço só é oferecido quando há alguem para comprar. Capitão Óbvio mandou lembranças.

O momento-chave é a resposta que o Bial não esperava, tanto que a reação dele é a prova da falha da tentativa de piada. Claro que o Panfili foi esperto ao responder que o “principal site” e “principal revista” que compram o serviço deles pertencem a Rede Globo, ou melhor, As Organizações Globo. Vejam bem, ele disse “principal”. Isso significa que ele vende seu serviço para mais sites, revistas e afins.

Espertamente o fotógrafo mostrou que estava ocorrendo uma discussão sobre privacidade justamente na “casa” do maior empregador que ele tem. Mesmo que a resposta dele tivesse sido “os grandes portais de internet” ou “as grandes editoras de revistas” isso não excluiria a Globo, Record, Abril ou [insira aqui uma rede de televisão ou editora que você não gosta]. Ele mostrou que são justamente eles os “patrões” que o Pedro Cardoso tanto clamou. Aliás, poderiamos aprofundar o assunto dizendo que na verdade os patrões somos nós, que assistimos, lemos ou ouvimos. “Um serviço só é oferecido quando há alguem para comprar”, como eu falei linhas atrás.

A hipocrisia, a falha, o fail seria se essa resposta tivesse sido censurada, não o fato do Panfili dar nomes aos bois. Ou o apresentador, o ator e o fotógrafo sofrerem represálias por causa disso. Se nada disso acontecer, então foi um bom momento do programa, com uma discussão altamente válida.