Das coisas que penso enquanto tomo banho II
Quantas pessoas passam durante a vida de uma pessoa? Centenas? Milhares? Milhões? Talvez milhares, imaginando uma pessoa comum. Não sei ao certo, mas devem ser poucas que milhões de pessoas passaram por sua vida.
E em quantas delas você realmente fez a diferença? As que realmente causaram algo em você, de modo positivo? Porque causar algo negativo é muito fácil. No caso, talvez nosso milhares cai para apenas algumas dezenas. Se você acha que apenas algumas unidades, provavelmente você não é uma pessoa muito sociável.Vamos trabalhar com a ideia de dezenas.
Então uma pessoa que viva aí dentro da média da expectativa de vida pode alegar que dezenas de pessoas foram importantes em sua vida, definiram seu caráter, causaram algo que fez uma mudança positiva em sua vida, seja fisica ou mental ou emocional.
Mas será que você realmente causou algo positivo? Será que você fez a diferença para alguem? Uma diferença que faça a pessoa lembrar de você de um modo bom, mesmo que ela tenha esquecido seu nome (afinal, o que é um nome?)?
Ultimamente tenho a sensação de que a qualquer momento será revelado que eu sou uma farsa, que na verdade eu estou mais é emperrando vidas do que ajudando a evoluir, crescer, melhorar… enfim, as luzes se acenderão e as pessoas verão o seu eu verdadeiro e acionarão o Procon.
Barulho de campainha, uma viatura parada em frente de casa, dupla de policiais sisudos. Portão abrindo.
– É o senhor Wagner?
– Sim, sou eu. Aconteceu algo?
– O senhor está preso. Tem o dever de ficar quieto e qualquer alegação poderá ser usada contra o senhor nos tribunais.
– Mas… mas… hey… espera… solte meus braços… o que eu fiz?
– A verdade foi descoberta, a máscara caiu. Entre na viatura.
E durante o trajeto as pessoas olham, algumas apontam e comentam algo baixinho a pessoa ao lado, outras observam em silêncio com um ar de “eu já sabia”.
É uma coisa que me faz pensar mesmo. Se excluirmos daí as pessoas com quem nós convivemos (família e parentes mais próximos), restam poucas pessoas que saibamos (porque a maioria nós nem imaginamos) que possam pensar na gente como “esse marcou, mudou minha vida”.
Só discordo do seu caso especificamente, porque acho que professores são as únicas pessoas que com toda certeza marcam a vida de pelo menos um aluno. Uma aula em um dia mais inspirado, uma brincadeira que parece boba pra você, uma advertência que pode livrar o aluno de encrencas maiores, uma explicação que vai ajudar no vestibular, um elogio que vai definir a carreira a ser seguida…
Acho que esse é o principal talento dos professores, mesmo os sem talento para lecionar: marcar e mudar a vida de, no mínimo, um aluno.