Ateu e à toa
Há dias que eu queria escrever aqui no blog sobre essa pregação maluca que acontece no Facebook, quando o assunto é o ateísmo. Na minha opinião, essa pregação danada me soa como prego enferrujado em madeira podre. Mas as palavras me faltavam, rascunhos foram jogados no lixo. Até que o Davi, do Pteranodonte, escreveu sobre o tema e concordei bastante. Alias, para título de curiosidade: tive o prazer de conhecer o Davi horas antes do Planeta Terra Festival e nós temos pensamentos parecidos sobre diversos assuntos, principalmente em música. Bem, deixando de conversa, abaixo você pode conferir o texto dele na integra, devidamente autorizado pelo mesmo.
“Não acredito nessa nova categoria de ateus neófitos e histéricos que proliferam nas redes sociais feito mosca em açougue. Nada contra a exposição democrática de ideias. Mas pensemos bem já que estamos aqui: o que é um ateu? Alguém que não acredita na existência de entidades metafísicas de natureza divina? Sendo assim, não parece contraproducente desperdiçar tanto tempo e paciência alheia defendendo ideias acerca de algo que não existe? Nesse caso, aquela resignação sóbria e absolutamente discreta não seria uma atitude mais compatível e elegante?
Sim, porque se alguém me dissesse que acredita em gnomos, por exemplo, e tentasse me convencer da existência e da importância deles, e também tentasse falar sobre os mini-cavalos nos quais eles surgem montados, eu simplesmente ignoraria e procuraria fazer algo mais útil, como lavar a trouxa de roupa suja que se acumula ali atrás. Parece sensato desperdiçar um segundo que seja defendendo meu direito de não acreditar em gnomos e em mini-cavalos? Não. Mas há quem ache que é necessário livrar o mundo da alienação, essas coisas. O dedo acusador da incoerência está apontado em riste pra você, meu amigo falastrão.
Hoje, acreditem vocês, existe até uma confraria de defesa do direito de ser ateu, a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos. Criaram uma entidade de classe para defender os direitos individuais de quem não quer acreditar em nada? Mas se não há nada em que acreditar, então para que o direito? É um ateu ali atrás, baixando a cabeça envergonhado? Já falei sobre os móveis empoeirados aqui de casa?
Conheci um único legítimo ateu, em toda minha vida. Era um sujeito velho e discreto da faculdade de filosofia que nunca cheguei a concluir. Quando instado a opinar sobre o assunto, chegava a assustar, tão absoluta era a incredulidade daquele senhor. Costumava dizer que sobre o assunto não há muito a se dizer, pois nunca há muito a dizer sobre algo que não existe. Quanta sensatez! E quando a discussão era acalorada, quase o ouvíamos respirar fundo, entediado que estava. Tanta coerência, ainda hoje, deixa-me atordoado.
A respeito daquele senhor, eu tenho pelo menos uma certeza: o tema do teísmo não o interessava nem de longe, o que parece óbvio se considerarmos que tal conceito e a visão idílica de unicórnios pastando na terra-média davam na mesma pra ele. Daí que concluo que legítimo desinteresse é aspecto mandatório para qualquer ateu de vergonha.
Por essa razão, quando vejo esse tipo de animosidade eclodindo nas redes sociais desconfio. O calo da auto-afirmação lateja forte no ego de alguns. E, digo mais: tenho certeza de que esses fanfarrões serão os primeiros a se prostrarem assustados, ajoelhados e orando febrilmente o pai-nosso, a ave-maria e o saravá-meu-pai, quando ouvirem os trovões e raios tombarem dos céus, apenas para constatarem em seguida, fulminados pela vergonha, que a meteorologia fez previsão de tempo ruim para o fim de semana.”
Sou ateísta, mas poucas pessoas do meu círculo de amizades sabe disso. Só as que perguntaram qual é a minha religião.
Embora me incomode um pouco quando eu vejo alguém associar ateísmo com mau caráter, também não vejo o propósito de entrar em discussões a respeito de algo quando a outra parte vai usar argumentos que, para mim, por si só já são inválidos, já que se apoiam em algo que eu não acredito.
Muito bom texto o do Davi.
Eu também não vejo propósito em discutir quando tudo depende de um “acredito” ou “não acredito”. E concordo com você: mau-caratismo não escolhe religião (ou a falta de).
Olá Wagner, achei bom o seu texto, mas não concordo com muita coisa aí não. Sou ateu, sei que existem muitas pessoas forçando a barra na net, mas o que mais me preocupa é o lobby que os teístas têm nos poderes políticos da nossa nação tupiniquim, na qual as leis que eles aprovarem ou desaprovarem serão diretamente proporcionais ao restante da população teísta ou não; e também como serão gastos (o já rarissímo e pífio) os recursos em ciências, pesquisa e tecnologia, mesmo eles não entendendo patavinas nenhuma, em áreas promissoras, como por exemplo célula-tronco e biotecnologia. Espero ter passado minha humilde opinião. Forte abraço e viva o debate de idéias.