Ninguem mais acredita em bondade
Quarta-feira aconteceu algo que me fez pensar na nossa sociedade.
Estava eu na fila do supermercado, esperando minha vez de ser atendido. Era algo entre 16 e 17 horas, o supermercado não estava cheio – até meio vazio para esse horario, que costuma ser um dos mais movimentados durante a semana – e na minha frente havia uma senhora e sua filha. A senhora devia ter algo entre 50 e 60 anos, e a filha entre 30 e 40. Elas estavam comprando poucas coisas, mas pelo o que eu pude perceber eram produtos alimentícios. Até aqui tudo bem, algo bem normal de ser visto em um supermercado.
Comecei a perceber que a senhora estava ficando agitada. Prestando atenção na situação, vi que o cartão, que ela estava tentando pagar a compra, simplesmente não estava “passando”. E a filha falando “A senhora pegou o cartão errado? Ai, não trouxe nem minha bolsa, e agora?”.
Olhei para a tela e vi o valor da compra (R$8,02). Olhei para as moças, olhei para a mocinha do caixa – com uma cara de “eu só trabalho aqui”, olhei para a minha carteira, sorri e falei:
– Com licença. Pode deixar que eu pago sua compra.
– Ahn? (as duas falaram ao mesmo tempo)
– Eu pago sua compra, não se preocupe, é um valor pequeno, não tem problema.
– Ai moço, que isso, não precisa.
– Não tem problema, minha senhora. Nem precisa me devolver, é só uma boa ação.
Percebi que nesse momento todos que estavam nos caixas começaram a me olhar.
– Que isso, moço, não precisa mesmo.
– Senhora, seu cartão não está passando. Veja, nem estou pedindo para você me devolver esse dinheiro, eu não te conheço, a senhora não me conhece. É só uma boa ação.
Novamente a senhora estava negando que eu pagasse a conta dela. Percebi que isso corria o risco de ficar em looping eterno, então precisei apelar para o que eu menos queria. Mentir:
– Ok então. Eu estou com pressa e a situação não vai se resolver. Eu pago e ponto final – ao falar já fui colocando o dinheiro na mão da moça do caixa – por favor, passe a compra dela e com o troco você passa a minha compra.
A senhora e a filha se assustaram com a atitude, agradeceram e foram embora. A moça do caixa ao lado virou e me disse: “nossa, quero estar na mesma fila que você algum dia, vai que você paga a minha compra também!”.
Dei uma risada meio forçada, peguei minha compra e sai. Chateado por ter que usar uma mentira para conseguir realizar uma boa ação. Infelizmente.
eu já tive mais sorte. foi aquela vez q SP parou por conta do PCC, todo mundo saiu mais cedo do trabalho, todo mundo apavorado. eu tinha saído do metrô e ia pegar o ônibus e uma estudante atrás de mim estava preocupada, estávamos conversando e para ela era melhor ir de metrô, mas ela não tinha passe… e eu dei um pra ela. ela hesitou, perguntou se eu nao ia precisar, mas falei q ela poderia pegar, não tinha problema. e ela foi embora de metrô 🙂
Esse povo não sabe mais brincar de gentileza. Triste.
Legal da tua parte, Wagner!
Eu já fiz essa da Rebeca no ônibus também, mas era pra um gatinho né, daí beleza!
😛
Pois é. E na mesma mão tem os aproveitadores, como aquela que desejou estar na sua fila. Bondade ainda é vista com estranheza, talvez estejamos tão acostumados com as porradas que levamos da vida, que esquecemos que existe algum tipo de bondade nas pessoas.
Na verdade o que falou alto foi o orgulho da senhora, por mais se seja uma boa ação acho que se tivesse falado algo “Moça, já que esqueceu deixa que eu pago não tem problema” se ela ainda titubeasse você poderia lançar a famosa “Moça, 8 reais não vai te deixar mais rica nem eu mais pobre, relaxa! Passa também já esqueci a carteira, acontece.” Acho que elas encarariam melhor.
Mas gostei da atitude muita gente fica com peninha, mas fica lá com cara de cu.