Leitura Dinâmica #02
Apesar do título do primeiro capítulo da parte 1 de Like a Rolling Stone de Greil Marcus, não há menção ao episódio que afastou Bob Dylan da música folk, quando ao receber um prêmio escandalizou a platéia dizendo que ele tinha muito em comum com o assassino de Kennedy.
Não, não é sobre isso o capítulo, mas Greil resolve se recordar da primeira vez que ouviu a voz de Bob Dylan, cita um episódio, em que o mesmo estava agachado cobrindo o isqueiro tentando acender o cigarro face à grande ventania no dia. E vai relatando seus contatos musicais com Dylan, quando o viu pela primeira vez como apenas um convidado ao palco por Joan Baez, e como mesmo sem ninguém o conhecer, já impressionava com sua performance de palco.
Em um dos parágrafos cita a sua apresentação no Grammy de 91, seguindo sua tradição de apresentar versões irreconhecíveis para seus clássicos, tocando em ritmo acelerado Masters of War, que já foi primeiro lugar da conceituada revista Mojo na lista das Cem Maiores Canções de Protesto. Compare a versão de Bob Dylan no Grammy (http://migre.me/ymlH) com a versão do Pearl Jam no Late Show (http://migre.me/ymeN).
Não chega a ser deveras injusto que as pessoas digam que é melhor ouvir suas músicas na boca de outras pessoas. Antes que perguntem, eu digo, gosto da voz de Bob Dylan, para mim ele, Jimi Hendrix e Billy Corgan são os 3 tenores, por mais ridículo que isso possa parecer.
Mas, voltando ao livro que é o que interessa aqui, há um belo resumo em poucas palavras a carreira de Bob Dylan, eis o parágrafo da página 37:
“Senhoras e senhores queiram saudar o aclamado poeta rock ‘n’ roll. A voz que representava a promessa da contracultura dos anos 1960. O cara que obrigou o folk a ir a cama com o rock, que usava maquiagem nos anos 1970 e desapareceu na névoa do abuso de drogas, que ressurgiu para encontrar Jesus, que foi descartado como artista decadente no fim dos anos 1980 — e que de repente mudou de marcha, lançando algumas das músicas mais fortes de sua carreira a partir do fim dos anos 1990. Senhoras e senhores, queiram saudar o artista da Columbia Records, Bob Dylan”.
Nada, mas certo.
Eu ia até quotar alguma coisa dai,mas desisti. Realmente esse parágrafo fala tudo.
Eu acho que apresentar Bob Dylan para um brasileiro é o mesmo que apresentar Raul Seixas (cantando em português) para um gringo, é tanta informação que a pessoa mesmo fluente na outra lingua não consegue assimilar.
Valeu Blacksheep